Para termos uma ideia da musicalidade africana nos Estados Unidos, é preciso realizar uma inserção no passado norte-americano. Fazendo esta pesquisa no tempo, chegaremos mais próximos do conhecimento de muitos estilos musicais que figuram nos EUA.
A princípio é importante saber, que existem muitas designações para o descendente africano nos EUA. Assim, eles são denominados, afro-americanos, afro-estadunidense, ou africano americano.
Contudo, no que diz respeito a sua origem, eles são descendentes de africanos ocidentais e subsaarianos, designações utilizadas recentemente pelos movimento de consciência negra (década de 80).
No entanto, a maioria foi trazido entre 1609 e 1807 para a América do Norte e o Caribe, durante o tráfico negreiro. Oriundos da África ocidental e central chegaram em 1619 em Jamestown (Virgínia).
È importante salientar que os povos oriundos da África subsaariana trouxeram muita musicalidade para os EUA,
O nome subsaariano é uma designação que se refere aos povos do continente africano provenientes do sul do deserto do Saara. Vale lembrar, que a África subsaariana é formada por 48 países.
A música destas regiões é transmitida oralmente e nela são utilizados os seguintes instrumentos: Xilofone, djembes, tambores e mbira (chamado de piano de polegar).
Características da música africana
A música africana está relacionada com ritos que envolvem danças e coletividade. Além disso, ela tem relação com a funcionalidade no trabalho. As apresentações musicais são longas e envolvem a participação da coletividade.
Quanto a sua funcionalidade existem canções de trabalho, canções que acompanham o parto, casamento, caça e atividade política.
Nas características ritualísticas, existem músicas para afastar maus espíritos, prestar respeito aos bons espíritos, aos mortos e aos ancestrais.
Blues e origem
Toda esta espiritualidade e funcionalidade da música africana vieram na bagagem dos escravos norte-americanos. Assim, nos cantos de trabalho dos plantadores de algodão do delta do Mississipi até chegar nos grandes bluesman esta espiritualidade nunca se esvaneceu.
A terra onde o blues nasceu foi no campo de algodões no sul dos EUA, no chamado cinturão negro localizado no Delta do Mississípi e adjacências.
O que é o blues
O blues como um gênero musical se estruturou no final do século XIX. Porém, antes a sua raiz já estava na música africana e em sua espiritualidade.
Vale lembrar que o blues nasceu como música vocal, pois os negros eram proibidos de tocar e fabricar qualquer instrumento musical.
Esta proibição estava vinculada ao medo de rebelião que os brancos donos de terras tinham diante do fato, de o negro fabricar e tocar os seus instrumentos.
No entanto, posteriormente foram acrescentados os instrumentos a estas melodias. Assim, nas raízes do blues estão as canções de trabalho e os spirituals.
Por outro lado, uma das raízes mais importantes do blues é a música narrativa, que posteriormente vai ser adotada pelo rap. Neste estilo narrativo, o blues era a única forma do negro contar as atrocidades que sofria.
Estrutura musical do blues
Quanto a sua estrutura musical, o mais tradicional dos blues é o de doze compassos com progressão em três acordes. As escalas que são usadas melodicamente e em improvisações são: a escala blues, e as escalas pentatônicas (5 sons)
Outra característica marcante é a linha de baixo (blues shuffles) que reforça o ritmo de transe e forma um efeito repetitivo.
A repetição de um padrão melódico acontece no contrabaixo, guitarra, piano e voz. Esta repetição se transporta nas sonoridades de cada acorde. Porém, é uma repetição com muitas nuances e variações de timbres, notas semitonadas e até notas fantasmas (ghost notes) que não aparecem mas intencionam o som.
Todas estas características fazem do blues uma música única e multidimensional. Além disso, o blues é uma música que transpassa as oposições maior-menor, das tonalidades.
Isto acontece porque as melodias e improvisações são feitas em escalas menores, sobre harmonias em tons maiores.
Vale lembrar que sempre, nos acordes, é acrescentada a sétima menor, proporcionando uma harmonia sem acordes de repouso e com acordes que trazem uma tensão constante. Esta característica se estenderá ao jazz que é uma música em constante movimento harmônico.
Primeiros compositores de blues
O blues possui raízes que vão até a música africana, estas raízes foram passadas aos descendentes mais jovens pelas canções que os negros cantavam nas plantações de algodão.
Contudo, a partir do século XX começaram a despontar alguns autores e seus estilos característicos.
W. C. Handy, filho de ex escravos, é considerado o pai do blues. Handy saiu de casa ainda jovem, e peregrinou de cidade em cidade, dando aulas de música por onde passava.
O seu primeiro blues publicado foi Memphis Blues (1912), depois publicou "The St Louis Blues (1914). Posteriormente ele se mudou para Nova Iorque, trabalhou como compositor para filmes, rádios e produções da Broadway.
A partir do início do século XX começaram a surgir muitos nomes do blues como:
Charley Patton
Son House
Willie Brown
Leroy Carr
Bo Carter
Sylvester Weaver
Blind Willie Johnson
Tommy Johnson
Porém, na década de 30 surgiu um dos mais marcante compositor de blues, Robert Johnson. Ele trazia influência de Son House e Willie Brown, gravou 29 canções apenas entre 1936 e 1937. No entanto, são canções que se tornaram verdadeiros clássicos do blues.
O retorno da ligação: África e EUA
Mesmo atualmente, na África, alguns músicos pesquisam os caminhos do blues e trabalham para o retorno deste estilo a sua casa de origem.
Sidi Touré, é um deste músicos africanos que trabalham na costura deste estilo com a musicalidade africana.
Nascido em 1959, em Gao, cidade pertencente ao centro comercial transaariano, às margens do rio Níger em Mali, Sidi Touré faz uma música possuidora de uma áurea mística.
Nesta música ele traz uma mistura dos cânticos do blues com a musicalidade islâmica. Vale lembrar que toda a região do sul do Saara é na maioria de religião islâmica, fato que nos faz crer que a musicalidade do blues traz em seu bojo a musicalidade islâmica também.
Em seu disco "Sahel Folk” de 2011 podemos ouvir uma música que nos diz muito sobre alguns elos entre a África e a América do norte dentro da música negra.
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