A educação musical sempre esteve atrelada aos hábitos, valores, condutas e visão de mundo relacionados à época de cada sociedade.
A história da educação musical também nos revela o valor que cada sociedade atribui a música. Atitudes de tirar a música do currículo escolar, fato que ocorreu no Brasil por trinta anos, revelam um atraso e uma regressão dos valores culturais.
A educação musical não é só voltada para formação de músicos, ela é acima de tudo uma disciplina necessária para a formação do ser humano. A música colabora para o desenvolvimento de áreas cognitivas e emocionais de crianças e jovens.
Os problemas que cercam a educação musical nos dias de hoje estão relacionados com a falta de discussão e reflexão sobre o valor da música em uma sociedade.
Na falta desta reflexão muitas atividades de educação musical não se apresentam como musical ou artístico e sim como a formas de lazer e entretenimento para alunos e comunidades.
Neste sentido, quando não há discussão e problematização não se chega ao conceito de música como arte e muito menos como forma de conhecimento.
Educação musical na Grécia antiga
Para compreender o sentido da educação musical na antiguidade começaremos pela Grécia e os valores que eram atribuídos à música.
Desde o início da organização política e social grega acreditava-se que a música influenciava no humor e no espírito dos cidadãos. Por esse motivo a música era controlada pelo estado.
Em Esparta, em seu sistema de educação, Licurgo exigia que a música fizesse parte da educação da infância e da juventude.
Contudo, ela devia ser supervisionada pelo estado, pois a prática musical colaborava na formação do caráter da cidadania. Assim, a arte musical precisaria ser controlada para que as canções não ofendesse o espírito de comunidade, devendo pelo contrário, exaltar a terra natal.
Para os gregos a música tinha um grande valor e precisaria fazer parte da educação e formação do indivíduo. Porém, esta arte era supervisionada e colocada a serviço da ordem cívica.
Segundo a educadora e pesquisadora Marisa Fonterrada, os cantos conferiam aos jovens um senso de ordem, dignidade, obediência às leis, além da capacidade para tomar decisões.
Vale lembrar que a música grega era dividida em modos melódicos e cada modo causava um efeito diferente no indivíduo.
Neste sentido, o modo preferido de Esparta era o dórico, que evocava equilíbrio, simplicidade e temperança.
A educação musical em Roma
A princípio a música e a educação musical romana se influenciaram muito pela grega, No entanto, conforme foi passando o tempo a música romana foi se inclinando para o grandioso e o virtuosismo.
Na história, existem relatos de grupos instrumentais imensos e de cantores que utilizavam de técnicas virtuosísticas semelhantes à artistas dos séculos XVIII, XIX, XX.
Existia um número considerável de escolas de músicas e dança em Roma frequentada pelos filhos dos patriarcas.
Já no final da antiguidade a educação musical romana se aproximou das teorias musicais gregas valorizando as relações matemático-musicais desenvolvidas por Pitágoras na Grécia antiga.
Educação musical na idade média
A música e a educação musical na idade média eram, acima de tudo, religiosa e litúrgica. Contudo foi muito influenciada pelo pensamento musical grego e seu simbolismo especulativo nas teorias dos neoplatônicos e neopitagóricos.
Os teóricos que desenvolveram a base teórica para a música na idade média foram Boécio e Cassiodoro. Vale lembrar que eles foram extremamente influenciados pelo pensamento grego.
O simbolismo numérico vindo de Pitágoras perpassa toda a teoria musical do início da idade média. Essa abordagem científica da música faz com que a música na idade média passe a fazer parte do quadrivium, a mais alta divisão das setes artes liberais.
Seguindo a configuração do quadrivium a música compartilha seu espaço com a aritmética, a astronomia e a geometria. Acreditava-se que sem a música, nenhuma disciplina poderia ser perfeita.
Para Santo Agostinho a poesia e a música eram inseparáveis. Este teórico e filósofo da igreja católica classificou a música como ciência.
Para ele, a música tinha a estrutura de qualquer ciência, pois se apresentava com os seguintes fatores: obediência às leis e a ordem matemática e analogias com as formas de existências organizadas.
A propósito, é importante lembrar, que na idade média coexistiam a música teórica que era atrelada ao pensamento neo pitagórico como vimos até aqui, e a música litúrgica que era uma música utilizada nos ritos religiosos.
Esta última era mais ligada com a prática do canto gregoriano e com a educação de canto, plasmada nas Scholae Cantorum , escolas de canto que se expandiram com o Papa Gregório desde o final do século VI.
Educação musical na renascença
A educação musical na renascença segue inicialmente com os princípios religiosos e as técnicas das escolas de canto da idade média, porém, aparecem novos fatores.
O primeiro deles é a aceitação da criança como um ser que necessita de cuidados especiais. Vale lembrar que na idade média a criança era considerada um tipo de animal de estimação feita para divertir o adulto e conviver com eles.
Seguindo essa nova visão sobre a criança, são criadas escolas de formação básica em música dentro de princípios diferentes das antigas escolas da idade média.
Essas novas escolas tinham objetivos de preparar músicos para a igreja, eram conhecidas como conservatórios, mas ao mesmo tempo também eram orfanatos.
Assim, Veneza possuía uma importante escola para meninas, enquanto Nápoles era reconhecida pelos orfanatos musicais para meninos. O primeiro desses orfanatos foi criado em 1537.
A propósito estas escolas também recebiam a denominação de Ospedade ( hospitais).
Vale lembrar que a educação musical no período renascentista coincide com a mudança de visão sobre a criança.
Neste período a educação formal começa a ser organizada nos colégios e seminários e a criança é vista com maior responsabilidade pela família e pelas autoridades da igreja e do estado.
Conclusão
As próximas épocas da educação musical seguirão o modelo da idade moderna inaugurado por René Descartes. Neste sentido, o racionalismo cartesiano fará parte da música e de seu ensino até os nossos dias.
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