Toda proposta que se faz com objetivo de construir conhecimentos e despertar curiosidades conjuntamente com os alunos, precisa ser sustentada por uma disposição de trabalhar com a Heterogeneidade.
As atividades ligadas às linguagens expressivas como teatro, artes visuais e músicas, trabalhadas na escola, mesmo se em âmbito extracurricular, podem trazer grandes benefícios à diversidade escolar. No sentido de trazer mudanças às visões normativas tradicionais.
Dentro da escola podem ser desenvolvidos, projetos extracurriculares e coletivos abrangendo várias linguagens artísticas, isto fará com que os alunos que tenham dificuldades físicas e cognitivas mais acentuadas, possam se incluir com suas singularidades.
Neste sentido, as propostas que enfatizam a invenção e a expressão são mais inclusivas por não exigir um desenvolvimento linear do aprendizado.
Música e inclusão
A falta de capacidade para adequar-se à sociedade e encontrar meios individuais de auto expressão é um dos sintomas principais das perturbações mentais. O valor da música neste caso é prover uma válvula emocional dentro do grupo.
Segundo Juliette Alvin, musicista e pioneira em musicoterapia, a música é a mais social de todas as artes; ela sempre foi uma experiência compartilhada, em todos os tempos, lugares e grupos sociais.
No novo modelo de inclusão, as propostas de oficinas musicais são adequadas por possibilitarem o desenvolvimento social em grupos cada vez mais heterogêneos. Na inclusão de crianças portadoras de Transtornos do Espectro autista (TEA), é crucial a criação de espaços de troca intersubjetiva.
A música tem grande potencial de propiciar o diálogo intersubjetivo, pois se abre à uma larga gama de comunicação que vai além da palavra falada, Utilizando-se dos gestos, movimentos corporais, sons instrumentais e vocais.
Linguagens artísticas no contexto da inclusão
As linguagens artísticas contribuem neste processo de inclusão porque no seu processo de linguagem e expressividade atinge o ser humano na sua subjetividade. Em concordância com esta hipótese e seguindo a afirmação de Vygotsky, a subjetividade é formada na relação com o campo social por meio da linguagem, em uma acepção em que linguagem e subjetividades constroem significações vivenciais.
Para Vygotsky (1984), o uso da linguagem se constitui na condição mais importante do desenvolvimento das estruturas psicológicas superiores ( consciência) da criança.
A linguagem abrange uma gama ampla que não reside apenas no uso das palavras, mas pode cooptar entonações, gestos, imagens e sons.
Neste sentido, a arte desperta a afetividade, proporciona processos comunicativos sem se restringir somente a utilização de palavras. Também traz à tona lembranças familiares; e provoca reações relacionadas com as dimensões simbólicas e imaginárias dos participantes.
Dimensão simbólica da sociedade
A nossa sociedade está sedimentada e embasada sobre leis de convivências e valores que se articula simbolicamente nas instituições abstratas e concretas como família, justiça, igreja, escola, estado e outras.
Todo aparato instituído gera um campo normativo que resulta em uma infinidade de regras sociais e simbólicas. Neste sentido, podemos dizer que o simbolismo nasce da relação com as instituições sociais e suas regras.
Salientando que esta relação é construída por pais, responsáveis e educadores é preciso que esta construção se dê no intuito do desenvolvimento da autonomia do indivíduo e não de uma subserviência a estas regras.
Portanto o ambiente que fornece relações simbólicas em regras de convivência embasadas no desenvolvimento de características críticas e autônomas está aparelhado para um trabalho realmente inclusivo.
Projetos Didáticos e heterogeneidade
O projeto didático se define pelo trabalho em torno de um tema, seja ele, sobre matemática, história, geografia, acontecimentos da atualidade ou outros.
Este tipo de trabalho pedagógico possibilita a formação de equipes de pesquisa dentro de uma sala de aula, cabendo a cada aluno uma função dentro do projeto global.
Neste sentido, ele valoriza a forma de trabalho educacional sobre um determinado tema e a sua conexão com várias áreas do conhecimento.
Vale lembrar, que a música como linguagem artística e do conhecimento traz uma flexibilidade de articulação, que proporciona ao educador formalizar um projeto didático com sua turma, que dialoga com várias disciplinas e responde a várias demandas.
Sala de aula inclusiva
Em uma sala de aula que possui crianças, que diante de uma proposta educativa, reagem cognitivamente e emocionalmente de forma diferenciada, o professor precisa propor uma atividade que compense as diferenças de apreensão do conteúdo. Isto porque, em uma sala inclusiva, pode haver crianças com singularidades, particularidades e com identificações variadas.
O trabalho em torno de um tema abre perspectivas para a construção de uma rede de vários saberes onde um tema pode transpassar várias disciplinas. Nesta proposta, a música possui uma flexibilidade ampla e permite ao educador, dentro de uma sala inclusiva, possibilitar a participação de todos.
Conclusão
A formalização de um projeto didático é rica em diversidade de conhecimento e atende a heterogeneidade do grupo discente. Quando se trabalha com uma temática em que todas as atividades convergem para um tema comum, possibilita-se um sentido de continuidade, tempo e finalização para as crianças participantes.
Neste sentido, o desenvolvimento de um projeto didático e interdisciplinar, utilizando linguagens artísticas e culturais, possibilita aos alunos deixarem suas marcas de singularidades e identidades. Este fato contribui para o reconhecimento subjetivo de cada um dentro do âmbito de uma sala inclusiva.
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