A princípio a música na gestação está relacionada com os fenômenos sonoros. Neste sentido, esses fenômenos ligados ao processo vibratório e de movimento surgem desde o preciso momento em que o óvulo se une ao espermatozóide para formar o princípio de um novo ser.
Assim, existem infinitos processos que rodeiam esse ovo que se aninha no útero que produzem vibração e som. Podemos elencar alguns desses elementos.
Roçar das paredes uterinas
O fluxo sanguíneo das veias e artérias
Ruídos intestinais
Sons de murmúrios da voz da mãe
Sons de movimento de inspiração e de expiração
Movimentos mecânicos e de atrito, viscerais, articulares, musculares
Sons de processos químicos e enzimáticos
Basicamente, todos esses fenômenos sonoros são denominados pela musicoterapia de “complementos sonoros”.
A importância dos complementos sonoros na gestação e no bebê
Todos os elementos acústicos que acontecem durante a gestação vão fazer parte da vida desse embrião e posteriormente na vida do indivíduo.
Neste sentido, todos esses sons vão formar o engrama mnêmico que repercutirá posteriormente nas diferentes características vinculares desse ser (BENENZON, p.13, 1988). Assim, os elementos sonoros resumem o tipo de vínculo que o feto estabelece com a mãe.
Portanto, no complemento sonoro de cada indivíduo estão as características sonoras das mães. Vale lembrar, que o estado emocional da mãe vai influir diretamente na percepção sonora desse novo ser.
Neste sentido, as inflexões de voz, modificações de pulsos, características das inspirações e expirações, marcadas ou entrecortadas da mãe, fará parte desse indivíduo.
Identidade sonora do ser humano
Basicamente, como vimos no tópico anterior, o complemento sonoro de um indivíduo está relacionado com os sons do processo de sua gestação.
Porém, logo após o nascimento esse complemento perde a força pelo aparecimento das circunstâncias sociais e culturais, que passam a ser fontes de outros estímulos.
No entanto, o complemento sonoro fará parte do mosaico genético herdado e da identidade sonora do ser humano, que é denominada de ISO (do grego, igual). Na musicoterapia no princípio de ISO, estão todas as técnicas terapêuticas não-verbais.
Como estabelecer um canal comunicativo por meio dos sons
Vimos até aqui que a identidade sonora (ISO) de um indivíduo estará relacionada com os sons que esse indivíduo vivenciou durante sua gestação. Portanto, os sons que uma criança produzirá, principalmente por sua voz estão relacionados com essa identidade.
Partindo desse fato, a melhor forma de comunicação que possa se estabelecer é por intermédio da imitação. Assim, para poder estabelecer um contato com o outro ser ou abrir algum canal de comunicação, surge a necessidade de imitar o outro.
Para entrar em comunicação com um bebê, nada melhor do que balbuciar como ele. Por outro lado, o bebê tratará de imitar os parâmetros mais simples de nossa linguagem.
Música e comunicação
A princípio, a comunicação se estabelece por imitação mesmo em relação ao aprendizado musical e sonoro. Neste sentido, em uma relação terapêutica com crianças portadoras de espectro autista será preciso imitar os sons que elas emitem. Porém, existem várias formas de imitação e comunicação. Assim, eu posso imitar os sons dos batimentos cardíacos, e de outros sons ligados a gestação utilizando os sons de instrumentos de percussão.
Abrindo um caminho de comunicação por meio da música
Basicamente, posso estabelecer contato com todo tipo de criança por meio de variados sons que lembram os sons gestacionais de atrito e movimento. Tomando como exemplo, os sons de instrumentos como chocalhos, vemos que eles são a representação do movimento de sementes, pedras ou areia.
Por outro lado, os sons do reco-reco, representam os atritos da baqueta com as estrias da madeira ou outros materiais. Seguindo essas características de atrito e movimento, eu posso elencar uma infinita rede de sons e texturas sonoras que estão presentes nos vários tipos de músicas e instrumentos.
Por outro lado, a música tem outros padrões que podemos utilizar no sentido de imitar comportamentos. Portanto, seguindo esses parâmetros imitativos, o psicólogo Altshuler, constatou que pacientes deprimidos podem ser mais estimulados quando ouvem músicas de tipo triste.
Por outro, com crianças que tenham comportamentos mais agitados a comunicação se dá com músicas mais rápidas e alegres.
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